Postagem comemorativa, 07 anos de Anaconfabulando
Eu detesto ter que discorrer
sobre minha sexualidade em rede social, mas entendo que quando falo sobre ela é
um ato político.
Imagens do google
Pois bem, em minha concepção a
sexualidade é uma coisa muito pessoal, portanto é diversa. Eu não tenho problemas em falar sobre
ela com amigos e amigas, nem com minha mãe, por exemplo. Ou simplesmente não falar com ninguém, também. O grande problema que
percebi há uns anos atrás, era que quanto mais naturalmente eu falava sobre
minha sexualidade e preferências sexuais, mais eu ofendia algumas pessoas ditas
mais conservadoras. Com o tempo eu fui amadurecendo e vivendo a minha
sexualidade com maior intensidade e menos palavras. Menos exteriorização das
coisas, mais internalização.
É este o meu estilo de viver a
minha sexualidade. Meu corpo é o meu território. E com ele eu transgrido tantos
padrões e estereótipos do patriarcado. Foi preciso até mesmo que meu corpo
sofresse transformações relacionadas a meu peso para que eu cada vez mais
tomasse posse daquilo que é meu. Faço do meu corpo o meu templo e por isso
mesmo que, longe de toda e qualquer linha ou traço de moralismo, desfruto dele
como bem me aprouver, cuido e não o exponho a inconsequências.
Mas é preciso que se diga: as
mulheres lutaram e lutam por liberdade sexual. Liberdade sexual é o exercer de
sua sexualidade de forma plena, sem direcionamentos externos, sem posse ou
proprietários. O fato de eu estar aqui agora escrevendo este texto, enquanto
mulher, é um ato político de comprovação de minha liberdade de expressão, é o
meu depoimento sobre como fui aprendendo aos poucos a exercer essa liberdade
sobre mim mesma, visto que não fui preparada para tê-la. Eu fui criada para que
meu pertencesse um dia a alguém. Eu subverti essa ideia, tomei as rédeas me tornando senhora de mim e hoje
entendo essa necessidade de tal afirmação e reafirmação.
Mas, nem tudo são as mil
maravilhas e compreensões. Mulheres que transgridem a cadeia do machismo
recebem retaliações profundas, que inicialmente levam às crises existenciais e
sociais, mas com o tempo amadurecem e fortalecem os princípios e caminhos
escolhidos para se trilhar. Sacodem-se os pés e a poeira se desfaz. Mas não é
dos conservadores assumidos que gostaria de falar. Eles não incomodam mais
quando se chega num determinado estágio de consciência. Eu quero falar dos
pseudo- moderninhos e moderninhas, que enchem a boca para dizer o quanto são
descolados, pra frente e pró-feministas. Será que são mesmo?
E se são, porque será que acham
que tem o direito fazer convites invasivos a toda mulher que se coloca enquanto feminista e livre para
o sexo, sem a menor cerimônia, e, diga-se de passagem, achando-se super modernos? Quem lhes deu o direito a achar que uma mulher
solteira encontrada numa rede social está a fim de transar com um desconhecido? O fato dela ser feminista? Isso dá uma canseira pra explicar, mas é necessário, ainda. Uma mulher que
compreende o seu processo de libertação sexual não é ninfomaníaca, isso é um
distúrbio. Eu, particularmente não sou adepta do sexo casual. Nada que me leve
a nenhum viés puritano, mas por uma questão de gosto mesmo. Eu preciso estar
envolvida, preciso conhecer ou estar em um nível emocional mais aprofundado.
Nada que me faça ter me arrependido dos sexos casuais que tive, não
mesmo. Porém, como sexualidade é uma questão muito pessoal e intrínseca, eu
tenho esse direito sem ter que parecer piegas.
Não é porque sou sexy, abuse de
decotes e seja feminista que eu esteja a procura de homens com um desejo louco
de transar. Muito pelo contrário. E afirmo isso hoje com a maior tranquilidade
de não parecer careta. O problema tem sido justamente esse. Os (as) jovens
não aceitam mais serem chamados (as) de careta e em nome de uma (pós) modernidade que
nem refletem sobre, metem os pés pelas mãos e acabam caindo também nos rótulos.
Preocupa-me essa exposição exacerbada da sexualidade não refletida, da
consciência não alcançada.
Liberdade sexual não é coisa fácil, adquirida de forma simples e sem dores. É conquistada, é conceito novo numa sociedade do padrão e das normatizações, da vigília e constante punição do corpo do outro.
Liberdade sexual não é coisa fácil, adquirida de forma simples e sem dores. É conquistada, é conceito novo numa sociedade do padrão e das normatizações, da vigília e constante punição do corpo do outro.
Ora estou sendo chamada de mal
amada, mal comida,ora sou chamada á jantares regados a vinho, o que não teria
problema nenhum, não fosse um desconhecido de internet a me convidar. É claro que eu digo sim ou não se eu quiser, mas o que me choca é a invasão e o equívoco com que sou tratada. Isso
quando não aparecem especulações sobre minha possível homossexualidade. Será que eu sou “anormal”
porque eu digo não para qualquer convite e prefira estar aqui escrevendo este
texto? Não, é esta a minha liberdade. De ser o que eu quiser e não
precisar falar pra ninguém. De ser puta, dama, santa, crente, pagã, vagabunda,
inocente, sensível, hardcore com o indivíduo que eu escolher.
Homens heterossexuais podem
exercer sua sexualidade com mais liberdade e até mesmo tem licença para serem
discretos. Mulheres feministas e homossexuais nas mais diversas nomenclaturas
(cis, trans, bi e gays) parecem ter a obrigação de serem espalhafatosos e ter
que ficar com qualquer pessoa, sair por aí falando putaria e fazendo como se
não houvesse amanhã. Quem definiu que é assim? Isso é mais um jeito para desqualificar? Por quê? Querem caricaturar as pessoas por conta de sua
sexualidade. Isso não é liberdade. Isso é invasão. Isso é ser careta. Porque
não se estão se respeitando as identidades, mas sobre elas construindo rótulos. A liberdade sexual é não caber em rótulos.
Respeitar significa não criar
mais preconceitos e ideias infundadas a respeito da sexualidade de ninguém.
Respeitar significa não intitular de beijo gay aquilo que foi simplesmente um
beijo entre duas pessoas. Com isso eu não estou dizendo que as minorias não
precisam se organizar em prol de sua luta, é preciso se afirmar sim, mostrar a
cara e exigir respeito. Esse peso dos estereótipos é sentido pelos (as)
próprios (as) heterossexuais, que precisam manter seus “padrões” construídos
intactos, para não serem “acusados” de gays. Mas eles não têm refletido esse "peso", porque lhes é bem menor, muito mais fácil de conviver.
Eu vou repetir essa frase até que
se apreenda por osmose: eu não me dou o respeito, porque ele é meu por direito! Com isso, não quero dizer que não aceito ser azarada, porque o problema não é
esse. Eu não aceito mesmo e a tolerância é zero para qualquer tipo de redução e
objetificação de minha pessoa. Eu sou bem segura da pessoa que eu quero para
dividir comigo momentos ou uma vida inteira. Tem que ser alguém que não resista
a um amor com integridade, que acima de tudo aceite discrepâncias e
individualidades. Um amor que fuja das relações tóxicas as quais nos ensinaram
como sendo vital. Eu posso viver sem elas e tenho vivido bem.
Eu me exponho falando de mim, mas
entendo que é importante esse ato. Pra desmistificar. Pra afirmar! Liberdade
sexual não é libertinagem. Nem toda feminista é homossexual. Nem toda feminista
é heterossexual. Nem toda mulher dá porque está carente. Nem toda mulher dá.
Nem toda mulher não dá. Com isso eu estou afirmando que não existem padrões, eles foram inventados para nos controlar. Vamos jogar tudo isso na lixeira do esquecimento e seguir com nossas
configurações de vida e escolhas, pois isso sim é liberdade sexual.
Eu prefiro superar as minhas
carências afetivas com chocolate do que me envolver em relações líquidas, superficiais
e tenho muita clareza do que quero dizer com isso. Isso não me inferioriza, nem
me coloca numa situação de superioridade sobre ninguém. É sobre escolhas, é
sobre como queremos levar a vida. Não como me dizem que deve ser ou não ser.
Mas como eu, com base em minhas vivências e reflexões, decido viver. Seja na
porra louquice, seja na arborização, ou no romancinho mais mexicano que
exista. Portanto, repito: não caibo em rótulos!
Eu aprendo a ser mulher todos os
dias e a cada dia respeito mais as minhas vontades, ao meu corpo e a minha
alma. A minha energia não pode ser compartilhada de forma superficial,
supérflua, vazia. Divido meu prazer com quem eu quiser. E a despeito de qualquer crítica, escolho dizer não a toda
e qualquer libertinagem e desrespeito disfarçada de liberdade. Meu corpo, habitação própria!
Ana Paula Duarte. Que ouvia Rock enquanto
escrevia este texto.
Parabéeens, Blog de minha alma, pelos 07 anos de inspiração e resistência!!!
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