Escreva, Ana!

       Eu teria tantos assuntos e tantas coisas para escrever agora. Talvez como nunca antes na minha vida, amenidades, fatos, problematizações. Mas perdi o tino de escrever em diários e blogs. Continuo pensando muito e guardo tudo nos pensamentos. Ideias, motes, insights, tudo se perde tão rápido dentro de mim e nunca mais volta. Antigamente eu sempre levava um caderninho e escrevia. Mas hoje, as coisas têm sido tão líquidas e tantas coisas e pessoas deixam de fazer sentido tão rapidamente, que guardo tudo em meus botões.
      Vejo tantos blogs na rede, enquanto o meu permanece aqui "abandonado". Logicamente hoje tenho outras prioridades, mas escrever despretensiosamente deveria ser uma delas. Por prazer, por deleite, desabafo, por querer. Um querer que tem se tornado cada vez mais raro nos tempos de lives, de mensagens de áudio, enfim. Será que alguém ainda vem aqui visitar e ler? Será que eu deveria apagar e seguir o novo fluxo e ritmo? Mudamos nossa forma de nos comunicar com o mundo. E conosco também? Acredito que sim, afinal é preciso se conectar para se reconectar, consigo, conosco, com o mundo a fora. Lá fora existe uma vida tão corrida e mais ainda efêmera, os anos passam e a gente (ou os outros) tendem a fazer comparações, olhando sempre para trás ou para os lados, mas a intenção é sempre ganhar alguma corrida e competição. 
         A gente se culpa tanto e por tantas coisas...estabelecemos prazos, excessos, metas e realizações que quando não vem nos frustram, causam medo e projetam cada vez mais expectativas adoecidas. Ou quando não planejamos, a vida vai passando feito uma onda que leva a gente pra lá e para cá sem nunca termos escolhido a direção. E qual o melhor caminho seguir? Planejar? Não planejar? Não tenho resposta. Proponho aqui a simples reflexão das amenidades, talvez uma proposição niilista e iconoclasta, ou seja, sem os apegos às nossas certezas sagradas, as ditas "verdades", absolutizadas pelas construções sociais. Desconstruir é caos, movimento, é pensar para além de um único ângulo. O saber científico está perdendo essa característica tão marcante em nome de mecanismos lobotomizados.
         Fazer essas reflexões não me livra de ter esses pesos, de me comparar diversas vezes, de querer que as coisas cheguem até mim no tempo da minha vontade, ou até mesmo me acomodar em determinadas situações. Humana que sou, continuo tão suscetível, porém, ao fazê-las sinto mais leveza, exercito o pensar, a reflexão e a introspecção, e é então que sinto o alívio: retiro boa parte dos pesos quando me permito o benefício da dúvida, do simples caminhar e da possibilidade de ir, voltar e me reinventar pra ressignificar as escolhas sempre tão carregadas de previsões, expectativas e das consequências que nos marcam. 
         A verdade é que ter priorizado um tempo para vir aqui escrever essas linhas já me deixam feliz. E a mensagem que deixo com isso é uma só: permita-se questionar o seu caminho, permita-se livrar-se das cargas que são inúteis e só dificultam a nossa caminhada. Meditar, respirar, olhar para dentro de si...São atitudes fora da curva das projeções, das comparações com o que não é você. A verdade é que o que a gente tem ou venha a ter tem a ver com tantas coisas, inclusive com fatores externos. Mas o que somos, isso tem a ver completamente com o que escolhemos ser e permanecer. Não é uma tentativa de apologia à filosofia haribô, mas uma tentativa de chegarmos ao caminho do sol de nós mesmos por vias menos dolorosas, mesmo que a caminhada seja mais longa. E é isso que tenho repetido incessantemente a mim mesma e compartilho aqui, nesse espaço tão meu, há tantos anos, e que tantas coisas me fazem deixar de fazer algo que sempre me fez feliz, uma coisa tão simples, que é o ato de escrever e compartilhar meus "pensamentos em voz alta".                                              
        Talvez, aquela rebeldia de outrora em achar que eu podia escrever tudo (até mesmo escrever mal, risos) já não existe mais e a maturidade trouxe consigo a concepção de responsabilidade naquilo que escrevo, afinal a comunicação também é algo sério, é social, é político, influencia, e, portanto, requer cuidados. Mas espero que não me engessem, espero voltar mais vezes e debulhar as palavras que sempre proporcionaram maravilhas a mim. Eu pertenço a este mote e preciso sempre me lembrar disso e vir aqui mais vezes para socializar a minha tessitura de mundo.

Com amor, Aníssima

Vem com leveza, 2017!

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