Olhe para mim

Olhe para mim E olhe bem Veja só! Uma foto não me capta Não me rapta E nem me adapta. Quando criança, Sonhava ter olhos azuis E os cabelos lisos Esquecia de agradecer por ter olhos e cabelos, O que já é uma dádiva. E mais que isso: Esquecia de ver em mim a beleza A imperfeita Ana Certo desvio no olho Sobrancelhas imperfeitas, Orelhas grandes e ainda Marcas de espinhas que persistem E que a resolução da câmera de um celular foi feita para abrandar... Cabelos rebeldes, cheios, rodopiam e fazem brotar cachos Imperfeitos! Sem esquecer de minhas pernas tortas Ou da barriguinha saliente que os 27 anos me trouxeram. Não sou o padrão de beleza, E agora, meu bom Deus (a)? Não sou o padrão de beleza, Graças a Deus (a)! Demorei, foi custoso Mas descobrir que o que existe mesmo é beleza imperfeita Que não somos iguais E que já chega dessa crueldade para com as nossas meninas Hoje sou mulher E tenho me desfeito pouco a pouco desses traumas Impostos Orquestrados Fraudados Por uma sociedade ...