INQUIETAÇÕES NOTURNAS, TÃO MINHAS E SUAS, DA SOCIEDADE


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Por que há ações na terra que parecem ser explicação, por mais que as buscamos? Oras, colocam-se enquanto inexplicáveis. É óbvio.  Mas por quê?
A humanidade quer respostas. Sim! Desejamos explicações diante de fatos que fogem da compreensão cotidiana. Queremos usar a razão. Mas às vezes esquecemos que também somos animais falhos, capazes de cometer atitudes instintivas, selvagerias e outros atos pouco impensados. A que tudo indica certos acontecimentos escapam do entendimento racional, lógico.

O assassinato brutal da menina Júlia de oito anos de idade, por exemplo. A moradora de um povoado em Lapão, cidade interiorana, pacata, tranquila, mostra a sensação de 'inexplicância'[1].
Ora, a menina estava na presença de pessoas conhecidas, consideradas "amigas". Ou seja, acima de qualquer suspeita. Todavia, mesmo assim recebeu o maldito brigadeiro envenenado, e ficou sedada e foi levada à morte por enforcamento. Tal tragédia não parece facilmente explicável. Ou é?
Até que ponto vai a crueldade humana com o próximo? A insanidade?
As religiões pregam as místicas, o transcendental. Supostamente lutam contra o mal e perpetuam as verdades sagradas. Mas os males continuam fortes nas sociedades por qual motivo?
Fica-se a grande dúvida: o que levou a senhora a matar a pobre e inocente Júlia? Alegou-se o impulso.[2] Mas qual impulso? – perguntamos.
Na vida cotidiana, as pessoas têm impulsos fortes. Gritam e compram muitas vezes pelo impulso. Quando são tomadas pelo ódio desejam até matar e depois desistem.
Agora, e se não desistem? O que acontece? O que se tornam? Ou se transformam?
Há um fio tênue dentro das pessoas e que conduz ao "equilíbrio" racional ou aos impulsos. Consegue-se controlá-los. Todavia, nem sempre. Aí surge a pergunta: como o ser humano é capaz de em um segundo cometer o inaceitável? O inexplicável?
A própria Psicologia é incapaz de determinar com precisão a natureza humana. Porque as ações continuam ininteligíveis em diversos casos. Atribuem-se fatos às loucuras ou aos demônios. Mas, se forem mesmo apenas maldades humanas condensada em atos animais?
No mundo natural, os animais se atacam. Acontece que brigam devido à comida, à conquista de território. Contudo, é possível observar a existência de algo que parece ser ético.
Na natureza humana, a pós-modernidade não tem tido ética. Queimou-se, por exemplo, a casa da assassina, também pelo impulso animalesco.
Não se acredita em um perdão utópico que apague a dor do passado de um ato tão monstruoso. O sentimento de ódio e de vingança é visível, porém merece ser controlado pela sociedade. Porque se for manifestado também será insano.
A pós-modernidade é cheia de primitividades: agora outra criança foi mar adentro e morreu. Perdeu a vida de forma estúpida.  No entanto, o indivíduo com a necessidade de autoafirmação diante dos demais é capaz de perder o controle e utilizar uma embarcação como arma para matar uma criança de três anos de idade. Na praia, a pobre vítima explorava o desconhecido e nem imaginava o que lhe esperava. O assassino, por pertencer a uma família com dinheiro, parece haver pretendido esconder a arma do crime: o jet sky. Por outro lado, omitiu o socorro à vítima.
São dois pesos e duas medidas. A análise destas tragédias revela a consciência e o julgamento que servem como raios-X à sociedade. O mundo corrompido e doentio parece enlouquecer as pessoas. Quer demonizando-as. Quer traindo-as. Quer levando-as às várias barbáries.
Diante disso, nos restam o desespero e a alucinação. Porque queremos as explicações às ações que se não forem devidamente reprimidas poderão servir como incentivos e estímulos para que em outros locais novamente aconteçam. Cabe enquanto prevenção à sociedade pensar e estudar os comportamentos. Não apenas os alheios. Mas principalmente os presentes em nossas vidas cotidianas.
Afinal, o que as pessoas são? Corpos inatos em vontades, caráter, valores e aspirações? Frutos do meio ou fruto da sócia-interação? Ou não passam de animais irracionais e estão a cada dia mais desconstruindo os bons valores e instaurando o caos?
O que as pessoas desejam ser? O que consideram a justiça? Qual o parâmetro para definir o certo e o errado?
Parece que é preciso voltar ao Paraíso e morder mais o fruto do conhecimento. Ou se envenenar de uma vez por todas. A ação ponderada é que construída a partir do conhecimento vivido e seguida e compartilhada socialmente com honestidade, amor, fraternidade, e utopia social.
Quando estudamos nossas raivas, indignações e revoltas em relação aos fatos e às pessoas, somos considerados ridículos. Contudo, agimos como os sábios.
Existirá um céu que nos libertará dos maus sentimentos? Que nos purificará? Somos bons o suficiente para chegarmos ao sagrado após a morte?
O céu também continua inexplicável. A humanidade talvez o fez assim para descarregar a dor do peso de existir.
Às vezes, desejo o céu. Por outras, prefiro ficar aqui na terra e lutar contra as barbáries. O certo é que tais questões nos desafiam e nos colocam dúvidas e indecisões. O questionamento do que somos e da nossa relação com o sagrado nos comprova o quanto somos ainda limitados. Partilhamos as nossas angústias existenciais.
Na época em que parece crescer o número de pessoas com pouca fé, aumentarem os assassinatos e os desamores, questiona-se onde está Deus. Diz o Filósofo Feuerbach:[3] “Conta-me acerca de teu Deus e te direi quem és.”
A atualidade deste pensamento renasce quando observamos casos como os dos assassinatos aqui mencionados.
Por fim, este texto não tem um parágrafo conclusivo. Porque não se chegou ainda a uma conclusão e nem se apresentou alguma solução.
O caminho parece ser levar à reflexão e ao se pensar da própria humanidade...

Ana Paula Duarte.
 Texto escrito para o site Terra de Lucas em 03/ 04 do corrente ano. Inquietações e inexplicâncias atemporais...


[1] Neologismo.
[3]Ludwig Andreas Feuerbach, Filósofo e Teólogo alemão do século XIX. Influenciou muitas ideias do Filósofo Karl Marx.

Comentários

Thiago El-Chami disse…
Pois é, Ana. Sempre o primata sem pêlos, o macaco nu, o animal infame. Sempre.
Thiago El-Chami disse…
A fera e o homem

A instintiva e fatal ferocidade
Com que a vida se ergue contra morte
Tem princípio e fim, tem alvo e norte:
Fome e instinto, saúde e saciedade

Porém, na fauna humana, a crueldade
Em total perversão da lei do forte
Tem no fraco, infeliz, pobre ou sem sorte
Ouro fácil e vitória sem verdade

E eis que o bípede implume que se exalça
Torturando animais da própria raça
Numa luta covarde, odiosa, inglória,

Quando ao seu próprio irmão ora extermina,
Não contente com a vã carnificina,
Aos seus filhos a ensina, e a chama história

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