Série:Contos Pós-modernos- VAZIO


     Ela já não acreditava em nada. Nem na existência de um deus, nem no ser humano, muito menos na vida. Só queria dormir e assim passaram-se vários dias de sonhos, pesadelos e anestesias. A realidade lhe doía. Já não queria viver, tinha a escolha e sabia que poucos notariam sua ausência. 
     Seus pais, já aposentados, viajavam o país a aproveitar a aposentadoria. Ela nem os culpava, já haviam feito tanto! Seus irmãos, bem, cada um em uma cidade vivendo suas realidades, com suas vidas construídas não tinham mais tempo para a família. Seus colegas de trabalho ficariam até felizes, alguém ficaria em seu lugar, sendo promovido e no fim, sobraria uma vaga de emprego, tão competitivo. Alberto já nem a olhava na cara, há meses nem a tocava, chegava em casa e ia logo para o escritório, para junto do computador onde só saía pelas tantas da madrugada. Alice, ela sim sentiria sua falta, mas sentiria por ser uma cadela e não haviam maiores motivos.
     E assim pensava Roberta, 34 anos, publicitária, caucasiana de classe média alta, casada, carro do ano, moradora de condomínio de luxo, bem-sucedida e infeliz... Ninguém teve tempo pra perceber seu isolamento e sua depressão. Seu apodrecimento vinha de dentro, um vazio, uma desesperança, algo bem pouco (ou quase nada) observado até que ela, querendo ser notada, num salto alucinante, após altas doses de alucinógenos acolhedores, de cima do viaduto, arriscou-se sobre o chão. Cansaço da vida, menos uma alma insaciada.
       Nem pôde assistir o espanto e a tristeza dos seus.



Viva a Pós-modernidade \o/






Ana Paula Duarte.

Comentários

Daiane Teles disse…
Nossa, realmente essa vida pós-moderna implica no invisivimento de pessoas, pessoas que estão bem proximas a nós e ao mesmo tempo tão distantes, tão sós, tão alucinadas, mas... mil a-fazeres nos cega e nos faz cada vez mais nos fechar para um mundo que é só nosso e de mais ninguém, um mundo cheio de razão, cheio de verdades, cheio de formas e tal.. e ae o superego... Em fim... Este é o sec. de merda que vivemos...
Marcos Fellipe disse…
Ehhh Ana!!! Belo e triste conto... Esse é o mundo q vivemos... Pessoas q só pensam em sí, em seus próprios problemas, incapazes de perceber o outro... Essa paranóica caminhada existencial leva pessoas a todo instante se jogar de pontes... Sozinhas... Sem conversar com ninguém... Talvez um e-mail, ou um aviso no orkut, talvez uma frase no msn, pois o espaço virtual frio e sem sentimentos é lugar q não encontrará o enfrentamento q há qd existem relacionamentos reais e verdadeiros... Pobre Roberta... Já pensei várias vezes em me jogar de lugares altos nessa vida, mas felizmente tive amigos que me seguraram, e pessoas q me apararam antes de me esborrachar no asfalto...
Unknown disse…
Nossa Aníssima, você se superou!Adorei essa ideia de tematizar a pós modernidade em forma de contos, muito interessante e a forma como começou a conduzir também foi maravilhosa, nas entrelinhas temos muito a refletir e discorrer. Espero pelos próximos contos da série. Um abraço de Vera.
Unknown disse…
Viva a pós modernidade mesmo que nos alimenta com seus sonhos e aneis de cristal que na verdade são vidros que se quebram facilmente;
lindo conto!!!!!!
ta de parabéns hein!
Dayane Carneiro disse…
Realidade que eu sei q vc as vezes se encontra. Mas sua garra e vontade de vencer a frieza q a vida traz é maior q tudo e ainda q a realidade as vezes tentando puxar vc p esse lado, vc consegue de forma mágica tornar-se o inverso de tudo isso. Formidável!
Braulio Pereira disse…
olá Ana Paula

teu coraçâo é uma estrela a brilhar

teus contos sâo vida

obrigado pelo teu cainho lá

amei tua visita


doces dias

beijos poéticos!!
Zélia Guardiano disse…
Aníssima
Que maravilha!
Encantou-me o seu conto!
Demais...
Bandys disse…
Olá Ana,

Um conto triste mas totalmente real.
Conheci algumas que poderiam fazer parte do seu conto. Enfim, voce escrevendo cada dia melhor.

Beijos
Minha querida

Lindo e tocante este conto...feito de realidade...realidade de muita gente, adorei.

Deixo beijinhos com carinho
Sonhadora
Adri Ferreira disse…
Aninhaaaaaaaaaaaaaa.. to aqui! =D

Nossa, texto bárbaro! ADOREI e me comovi! Muitas pessoas se perdem nas ilusões do mundo material e esquecem de alimentar a alma de coisas realmente úteis, como conhecimento da vida e saúde espiritual!!!

As vezes não comento.. mas sempre dou uma espiadinha nas novidades do teu "brógui"! ;D

Bjo carinhoso!! ♥
Vilma disse…
Essa coisa de querer ser alguém aos olhos dos outros, saber quem somos, ser notados, ser 'gente'. às vezes ser tanta coisa é complicado, como caio dizia algo tao inevitável quanto a morte é a vida... estamos vivos e só, precisamos curtir isso do modo que dá sem comparações ou grandes esperas... sem sermos nosso maior inimigo
bjxxx
Adri Ferreira disse…
Anaaaaaaaaaaa.. tu não tem facebook???? postei teu blog no meu mural... se tiver me add.. bjooooooo
Carla Fernanda disse…
Boa noite! Temos que cuidar para não perdemos nunca o desejo pela vida.
Parabéns pelo blog!
Sou sua mais nova seguidora,
Carla Fernanda
:.tossan® disse…
Gosto do que editas, gosto dos teus comentários lá no klic. Um coto com conteúdo. Adorei. Beijo
É o vazio pós-moderno.
Beijo.
Daniel Savio disse…
Depressão é algo sério, muito sério...

Fique com Deus, menina Ana Paula Duarte.
Um abraço.

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