Um pouco mais de língua
'Gosto de ver minha língua roçar... A língua de Luís de Camões.' (Caetano Veloso).
Faz mais de 500 anos que os portugueses atravessaram o Atlântico para aqui em terras americanas se instalar. Dizimando uma cultura, impuseram uma religião monoteísta, estabeleceram uma única língua para todos, enquanto os ameríndios que aqui habitavam, possuíam várias línguas e dialetos e tudo isso foi ignorado, coisa comum de colonizador.
Trouxeram os africanos como escravos , que para os europeus e sua visão eurocêntrica de mundo, serviam apenas para o trabalho braçal,e que em força e vigor físico os negros e negras eram bons e mui resistentes. Com eles não foi diferente: também tiveram língua, costumes, corpo, se possível até a alma, aprisionados. Eram tantos/as negros/as, eram tantas influências, que um conselheiro do governo achou por bem trazer os italianos para "embranquecer" e "purificar" o território tropical português, já que era grande a miscigenação e a quantidade de “mulatinhos” só aumentava.
E então o país cresceu, se desenvolveu, e colônia, ainda que tardiamente, deixamos de ser. O eurocentrismo nos impediu de ter uma autoestima em alta, mas não foi capaz de impedir o nascimento de uma cultura nascida das tantas mesclas as quais entrou em contato. E se evidenciou em alegria e festa, num regionalismo diverso e rico, dum território imenso. Ainda que maltratando seu povo e criando uma sociedade baseada em privilégios para poucos/as. Com isso também, uma constatação: já não é a língua de Camões, eis que surge entre essa mistura a feijoada Português do Brasil!
A nossa língua tanto mudou, que variou e dessa vertente, se assegurou. E nem isso os portugueses puderam evitar, totalmente autônomos, rumamos ao futuro, crescendo a cada dia, misturando aqui e ali, preservando uns arcaísmos, naturalmente dando vez a uns neologismos, renovamos e evoluímos, assim é a língua, que só morre se ficar parada. É normal tal fenômeno, já que a língua é também social, portanto essas mudanças enriqueceram e enriquecem nosso vocabulário.
Mas lá vem o português do europeu (PE) reclamar outra vez! Eles dizem que o português brasileiro (PB) é chulo, eles querem comparar e se auto afirmam os melhores e que o nosso é o genérico... Quando o que há em verdade são variações.
E se a saudade aqui ou lá na Europa é maior, se o luar (que surgiu no nosso sertão e também não possui tradução) aqui ou lá é mais bonito, só podemos afirmar que são palavras compartilhadas entre nós, unicamente do nosso tão lindo Português, seja aqui ou lá, é ele a estrela, tanto faz as variedades linguísticas, se não possui grau de superiodade ou inferioridade- não é advérbio. Não se pode mensurar.
Aprendamos a lidar com o diferente.
Viva a Língua Portuguesa, seja em Macau, Timor Leste, Brasil, Portugal,ou Angola...
Ana Paula Duarte.
Comentários
O latim morreu? Não, não, ele evolouiu e se transformou em outras línguas através da romanização...
O mesmo ocorreu com tantas outras...E sempre ocorrerá...