Obrigada, Maurício!
Há
exatamente dez anos atrás você recebeu aquele pedido de casamento e disse não com tanta convicção que foi assustador!
Não que desdenhasse de quem tanto te
queria a seu lado, mas por querer insaciavelmente experimentar uma liberdade
desconhecida de menina cristã cheia de dogmas, mas com tantas dúvidas e
revoltas intrínsecas que te atordoavam a mente.
Você tinha certeza de que nada sabia, e hoje que sabe um pouco mais, já
compreendeu que continuará nesta busca, mas já agradece por ter dito aquele não
tão rápido como hoje bebe uma dose de Seleta. Você olha para trás e vê que
foram poucas as perdas, mas os ganhos foram muito mais significativos. Um salve
àquele não de outrora! E viva toda aquela rebeldia que para muitos era
"sem causa". Viva todas as ebulições mentais que te fizeram ter
posturas tão diferentes do que esperavam muitos! E hoje, você sabe que ele não
suportaria conviver com este teu ser livre, frenético, desprendido... E viva
àquela virgindade pura, àquele medo demente de ter filhos, aquela vontade de
conhecer o mundo lá fora. Porque aquele quadrado não comportaria... E ainda que
houvesse conforto, não haveria a pessoa que você é hoje. Mais humana do que
antes, menos preconceituosa e aceitando-se assim, bem
longe de padrões e de encaixes.
E se foi um amar gostoso, hoje você guarda na memória como o seu
segredo, agora aqui em linhas revelado. Porém, não passa disso... Uma carta
guardada na gaveta, uma vez no ano você vai lá e lê, relembrando tanta coisa.
Mas logo a coloca de volta, é lá o seu lugar. E depois, segue para a
vida onde encontra tanta gente e tanta novidade! Respirando fundo com vontade,
segue. E, intensa, você aprendeu a absorver tudo, as coisas boas que as pessoas
podem te dar e que você aprende. Nada material, mas conteúdo essencial aos
seres humanos especiais.
E você não pensa em casamento agora, não como pensava antes. Porque
reflete. Se tivesse dito aquele sim, como seria sua vida hoje? Teria perdido
tudo isso que aprendeu e foi constituindo dentro de sua caminhada, isso é fato!
Porque hoje você olha para ele e já não o encontra. E ele, se olhar para você,
já não encontrará aquela menina. Você não consegue se projetar numa vida comum,
não para responder a família e sociedade... Só se for por amor e o amor é livre!
Então, você suspira aliviada. Escolhas, ah, você já fez tantas e algumas tão loucas,
mas, há algumas que eram estrategicamente importantes para seguir no caminho de
seu sonho mais douro: a liberdade indizível e impalpável.
E hoje você não se sente só, pois nos momentos de solitude, você se
basta. E nos momentos de multidões, se destaca. Hoje, aquele momento com o qual você sempre sonhou chegou e você o aproveita, aderindo novas concepções,
leituras e releituras da vida, sonhando novos sonhos, novas esperas e novos
deleites. Até novos amigos você fez, contudo, sem esquecer-se de todos os seus amados
companheiros de caminhada. A sua fibra se fortaleceu e venceu aquela violência
silenciada que tanto lhe doía, você foi ao ápice da denuncia social, da
contestação, de si mesma, quebrando os seus tabus, travando batalhas consigo mesma, venceu suas guerras interiores e tornou-se forte.
Enfim, você chegou a maturidade! Sem tantos amores estilo os clichês mexicanos,
sem tantos dramas latentes... Uma frieza que veio com o tempo, mas sem gelar o
coração. Uma sabedoria de silenciar, engolir sapos, de conviver e não vomitar
suas verdades. Ah, as dores da vida você agradece: mais precisamente aos nãos
estratégicos e inesquecíveis.
"É bom olhar pra trás e admirar a vida que soubemos fazer... ♪"
Ana Paula Duarte, a pé até encontrar um caminho, um lugar, pro que eu sou...SEMPRE!
E é nos dias em que o medo pede passagem e nos inunda que podemos abrir caminhos para reavaliações e do próprio caos retirar forças para emegir.
:D
PS: óbvio que Maurício é um nome fictício...
Comentários
Feliz Páscoa Anissima.
beijooo.