O olhar de Margot sobre a vida adulta


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Ao acordar naquela manhã de chuva a menina Margot estava inquieta para que o dia logo se iluminasse de sol. De um lado para o outro, ia sempre até a janela para observar se já clareava o céu. Aquela ansiedade pela volta do brilho solar só a angustiava, e a menina de birra, chorou.
Queria ir ao parque, brincar de picula com seus amigos, ir para à rua...Mas o céu não abria e as nuvens encobriam o rei sol. Margot ficou pensando no seu mundo, lá onde o sol brilhava sempre e as nuvens só serviam para algodão-doce e a chuva era ligeira e gostosa, sem melancolia. São tantas coisas na vida que fogem dos nossos desejos e vontades!
Nada de tecnologia! Tablet, notebook, smartphone...Nada disso a interessava. Bom mesmo era movimentar-se, entrar em contato com as pessoas, gostar delas ou achá-las monótonas. Naquele momento ela sentia falta de gente. 
Num sobressalto, a menina resolveu que não ficaria ali sentada  esperando a chuva passar! Levantou-se e foi para fora. Se sua mãe visse, levaria a maior bronca do ano, mas ela agora queria porque queria sentir a chuva. E sentiu. Os primeiros respingos da árvore para onde correu, no quintal, logo causaram arrepios tencionando frio. A menina começou a pular e o frio passou. Bruscamente abriu os braços e sem proteção saiu na chuva, pulando, dançando e rindo. Margot sentia a vida, que menina sabida, ela aproveitava tudo. Pensou que ali agora, só faltavam os amigos.
Mas tomou um susto quando de súbito sua mãe berrou da porta lateral para que ela entrasse. Ela riu-se e foi-se. "Que mãe estraga prazeres" pensou. E voltou ensopada direto para um banho quente. Enquanto sua mãe a chamava de menina imprudente, que no meio da tempestade foi se abrigar debaixo de uma árvore "Em tempo de cair um raio. Valha-me Deus!".
Já no quarto a procura do que fazer, Margot novamente sentia que não se bastava sozinha. E aquele dia que não passava, que horas mais chatas! Nada de sol, nem de chuva. Ficou pensando de novo nas chatices da vida: quando estava sol demais, ela não podia ficar exposta, devia ter cuidado com possíveis problemas de pele. Se fosse para chuva, poderia ficar gripada, que agravaria para uma pneumonia. E pensou novamente: "Se a gente fica nessa de preocupação e medo das coisas, nem sol, nem chuva... vai ser um nublado sem fim!”. E Margot ficou achando todos os adultos do mundo uns chatos medrosos.
Margot ainda não se interessava em saber como era a concepção de bebês, mas já sabia que quando tivesse os seus filhos, não seria tão super-protetora, trabalharia menos, seria uma corajosa desbravadora e curtiria mais a vida ao lado de seus filhos-amigos. E nessa análise profunda e dificílima na qual acabou adentrando veio o sono, e ela, como de costume, adormeceu. O sono era sempre oportuno para a menina. 

Como é fácil ser adulto quando se é criança! Ai, ai...Queria mesmo era voltar no tempo de Margot!

Ana Paula Duarte. E Margot voltou!

Comentários

Thiago El-Chami disse…
Que delícia de alexandrino esse, ó:

"Como é fácil ser adulto quando se é criança!"

P.S.: Só não entendi porque me excluiu do Face.
Crianças brincam de ser adulto,
adultos brincam de ser criança.

Acho que todos gostariam de voltar a ser "Margot".

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