Os caminhos de mim

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Depois de finalizar o trabalho numa planilha de Excel, eu poderia estar esgotada e cansada do pc, mas estou aqui, pensando e escrevendo.
Pensando sobretudo nas relações humanas. Com ênfase nas coisas que chegam ao fim. Uma amizade, um namoro, um caminho, uma vontade.
O fim é sempre traumático? É preciso viver o luto, a transição, o amargar da solidão?
E quem de nós não experimentou o fim de uma amizade? Bem sabe o quão doloroso, cortante, desconcertante e muitas vezes solitário e estigmatizado isso pode se tornar.
Ou quem findou um namoro ou casamento, em que o amor, todas as promessas e demais sonhos tornam-se poeira, que o vento leva. Mas não sem antes incomodar muito nossos olhos, a ponto de lacrimejar bastante!
O fim de um ciclo, de uma fase, de uma verdade, ideia ou caminho antes percorrido com contundência, ideal defendido com veemência que já não faz sentido.
Viver é experimentar estes fins. Mas, não é sobre os fins propriamente ditos que quero discorrer. É aquilo que fica de aprendizado, de memória, de crescimento e de evolução antes e depois do fim, que a gente leva pra vida e nunca mais é o mesmo, seja para cometer os famosos “erros” e “acertos”.
Aquele abraço forte que envolvia o laço de uma amizade que parecia ser eterna, teria sido falso?
Aquela promessa de "amor até que a morte nos separe", teria sido uma enganação?
Aquele caminho longo e pedregoso pelo qual andávamos entre penhascos, foi mesmo uma perda total de tempo?
Será que podemos levar essas coisas que nos são tão complexas num pensamento tão cartesiano, ou mesmo tão maniqueísta? 
Será mesmo que aquela amizade não foi eterna e verdadeira, mas enquanto ainda havia confiança, predisposição e sinestesia entre ambos? Será mesmo que aquele amor não foi forte o suficiente para resistir as dificuldades do cotidiano porque era fraco, egoísta ou covarde, ou como poetizou o Vinícius de Moraes, foi eterno enquanto durou e existiu num instante que se configurou único? 
São muitas perguntas e talvez até existam outras, muitas. Mas o importante não é buscar respondê-las, talvez devamos entendê-las primeiramente. E então, vai que nós aprendamos a ser menos ingratos com a vida e com as pessoas. A vida não é linear, portanto, mesmo que façamos planos e tracemos ideias, as coisas mudam em frações de segundo. 
Chegamos a questionar muitas coisas, mas penso que não podemos renegar, demonizar ou ainda intitular como engano ou egoísmo. Não podemos nos colocar neste lugar de vítima, daquele ou daquela que foi usado, descartado (a), excluído. 
O nosso desafio é tentar desprender, mesmo que não se entenda. Dar espaço, olhar para os lados e vislumbrar outros caminhos, desapegar. Deixa andar, deixa ir. Encerra o ciclo, a amizade, o amor, o caminho.
O novo está a tua frente por uma infinidade de conspirações do destino ou não, mas com certeza já não dá para retroceder. E também não precisa olhar para o fim como uma tragédia, com ojeriza e ressentimento.
Estou lutando para me desintoxicar dos inúmeros fins em minha vida. Isso sem ter que desvalorizar as pessoas, os amores e caminhos de outrora. Fácil? Não para quem estava numa visão viciada. Mas possível, ao menos tenho refletido sobre isso e muitos dos meus pesos foram dissipados, tirados das minhas costas.
Aproveitar essas experiências e dores para evoluir, melhorar as relações e caminhos que me restam, seja para dar mais atenção, liberdade, tolerância, apoio, confiança, seja para entender que podem também acabar a qualquer momento. Entender que a decisão também é minha, mas que as relações não são unilaterais. Respeitar as minhas vontade e decisões, enfrentá-las, respeitar as alheias. Está aí um grande ato de coragem.
Tu te tornas eternamente responsável pelo que cativas, é aquela frase mais que linda do livro O Pequeno Príncipe. Pois bem, concordo com essa frase, mas a grande questão está nesse ponto: o eternamente. Quem se arrisca a mensurá-lo? Eu não. Por isso, ultimamente tenho preferido trocá-lo por intensidade.



Vejam como o ócio é importante para a produção do pensamento humano! Me rendi ao niilismo para descansar um pouco de um grande esforço de trabalho analítico. Fui para o facebook. Ultimamente não tenho ido ao facebook, tenho o achado chato. Me remeti a um mergulho no facebook entre os anos de 2010 assim que abri minha conta, 2011 e 2012, respectivamente. Caramba, vi tanta coisa  que já não é. Fotos, frases, promessas, sonhos...Amizades, amores, credos, planos...

Não senti nostalgia, nem ódio, nem asco e nem arrependimento. Mas saiu esse texto, em respeito ao que fui, em respeito às minhas escolhas e mais do que nunca, em respeito ao que sou. Tudo aquilo um dia foi verdadeiro, nada foi mentira ou engano, mas hoje, repito, já não é e nem faz parte do que sou. Mas, da forma como foi presente em mim e de acordo com sua intensidade, contribuiu para o que sou e até mesmo para o que decidi não ser. 


Ana Paula Duarte.

Comentários

Salatiel Pereira disse…
"Eu não enxergo o inferno que me atraiu... dos cegos do castelo me despeço e vou..." Salve Os Titãs! Gostei do seu estilo, da sua escrita. Eu me enxerguei em muitos textos. E eu, que às vezes me atrevo a escrever gosto muito das poesias de Mário Quintana que são verdadeiras confissões poéticas:"minha poesia sou eu mesmo". Gostei de alguns termos que você usou, a saber, "o amargar da solidão" e "relações toxicas", são termos precisos e de longo alcance.

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