Chuvas de dores
Hoje acordei assustada. Sabe quando você está dormindo, mas bem baixinho lá no fundo está de alguma forma ligada com o mundo acordado? Pois, eu dormia, mas lá no fundo ouvia as notícias da TV, até que uma em especial me fez pular da cama (coisa que é deveras difícil). E no meu susto, fui ouvindo e chorando, me sensibilizando, me sentindo dentro da história, sendo humana e solidária, a dor era tanta que transpassava aquela televisão.
Felipe foi um dos milhares de moradores das áreas afetadas pelas chuvas que arrasaram a Região Serrana do Rio de Janeiro na última semana, que perdeu casa, pertences, dignidade e como se não bastasse a dor das perdas materiais, perdeu um bem irrevogável, seu filhinho de 5 anos, que estava desaparecido. Perdeu-se em meio ao caos da confusão e desespero durante a enchente. O rapaz então começou uma procura por abrigos, hospitais, ONGs e Órgãos que estão cuidando das crianças sobreviventes que estavam perambulando sozinhas pelas ruas. Foi quando uma parente viu numa reportagem da TV, em um abrigo para crianças, um menino muito parecido com o Felipinho (o nome do menino, que levava o nome do pai) e todos se encheram de esperanças.
Então Felipe procurou a equipe de reportagem da emissora para saber que abrigo era aquele. Prontamente a equipe se ofereceu para ajudar e incrivelmente eu pude ver que de fato não era sensacionalismo, estavam todos sensibilizados com a história, ainda mais quando Felipe tirou do bolso uma foto do menino, sorridente, feliz, criança. Foram então até o lugar e uma parte da equipe foi procurar a reportagem em seu arquivo. Rodaram a cidade arrasada durante horas, percorreram os abrigos e ginásios lotados de pessoas completamente perdidas e destroçadas, mas nada do menino Felipinho. Até que em um hospital, disseram haver um menininho que correspondia com as descrições do pai e foi quando vi o olhar de esperança naquele homem, era cortante, pois logo encontraram a reportagem e o pai então deu um grito de desespero "Não é o meu filho, não é ele". E todos, todos choraram. E eu, bem, eu daqui do meu conforto quente, seco, limpo, não segurei minha emoção e fui aos prantos e ao chão. Eu nunca tive filhos, eu não sei ainda a dimensão deste amor, mas, senti profundamente a dor daquele pai. Ninguém encontrava o Felipinho e ele não era o menininho da reportagem, era apenas mais um dos assolados pela tragédia. E Felipe voltou para casa sem seu filhinho, jurando que continuaria a procurá-lo.
O que me deixa ainda mais triste, é que se ele estiver morto (o mais provável, infelizmente), seu pai não consiga encontrar seu corpo e lhe dar um enterro e um túmulo...Quando eu era pequena minha mãe me dizia que quando morria uma criança no mundo ela virava estrela. Hoje eu quis muito voltar a acreditar nisso, queria mesmo que fosse verdade. Elas merecem, pois são puras. E eu queria muito que o Felipinho fosse uma estrela sorridente brilhando lá no céu.
Não quero falar de culpados, de dinheiro, de bens. Há bens que são imensuráveis e impagáveis, são as vidas...Ceifadas por incompetência e economias ridículas. Só quero falar de solidariedade e sentimentos indispensáveis a nós da comunidade humana.
Ana Paula Duarte.
Para atualizar a quem interessar (aqueles que não estão tão entretidos com o BBB 11 ou coisas similares), deixarei alguns links com informações e um balanço sobre a tragédia. Depois de informados tirem suas próprias conclusões, mas de pronto aviso, se Políticas Públicas de Prevenção não forem criadas no sentido de mapear as áreas de risco de todo o país e criar uma central de monitoramento, em breve mais catástrofes virão e temo que acabemos por não chorar, nem sofrer, mas, que nos conformemos e que tudo se banalize.
2°link: http://noticias.r7.com/rio-de-janeiro/noticias/rio-recebera-emprestimo-de-r-800-milhoes-do-banco-mundial-20110118.html
3° link: http://noticias.r7.com/rio-de-janeiro/noticias/-enchente-muda-mapa-geografico-de-nova-friburgo-diz-governo-20110117.html
4°link: http://noticias.r7.com/rio-de-janeiro/noticias/mae-de-nova-iguacu-procura-por-adolescente-desaparecida-na-tragedia-de-nova-friburgo-20110117.html
5°link: http://noticias.r7.com/rio-de-janeiro/noticias/policia-prende-dois-homens-furtando-donativos-que-iriam-para-a-regiao-serrana-20110118.html
6°http://noticias.r7.com/rio-de-janeiro/noticias/uma-semana-apos-tragedia-cenario-da-regiao-serrana-do-rio-continua-devastador-20110118.html
7°http://noticias.r7.com/rio-de-janeiro/noticias/material-genetico-e-arcada-dentaria-sao-as-unicas-formas-de-identificacao-dos-corpos-20110118.html
8°http://noticias.r7.com/rio-de-janeiro/noticias/ufrj-faz-estudo-sobre-risco-de-deslizamentos-em-angra-dos-reis-20110118.html
9°http://noticias.r7.com/rio-de-janeiro/noticias/moradores-de-area-isolada-por-barreiras-em-teresopolis-reclamam-de-descaso-da-defesa-civil-20110118.html
Mas, se o BIG BROTHER BRASIL estiver mais interessante, desconsiderem tais informações.
AJUDE: A Prefeitura de Teresópolis abriu uma conta bancária para receber as doações. A conta, do Banco do Brasil, aceita depósitos de qualquer valor. O número da agência é 0741-2 e o número da conta é 110000-9.
A Caixa Econômica Federal abriu uma conta para a Defesa Civil estadual. As doações, destinados ao atendimento dos moradores da região serrana, podem ser feitas na conta 2011-0, agência 0199, operação 006.
O Bradesco também abriu uma conta, em nome da Obra Social do Rio, para receber doações. Os dados da conta são: agência 3176-3, conta 500001-7.
Fonte de notícias:Portal r7.com
Comentários
Depois de ler o que escreveste e ver as noticias aqui em Portugal, e eu que morei 2 anos no Rio...doi-me muito...apenas deixo a minha solidariedade e um carinho.
Não tenho mais palavras...é tão chocante.
Beijinhos
Sonhadora
Dizei-me vós, Senhor Deus,
Se eu deliro... ou se é verdade
Tanto horror perante os céus?!... (Castro Alves)
Beijos, querida amiga.
Ao ver tamanha dor, tristeza e desencanto, cheguei a acreditar que Deus havia se mudado para outro país bem distante, onde não há morros, favelas, enxurradas nem criançinhas soterradas...
Mas ao ler seu texto, a partir do que vc escreveu pude perceber que Deus continua aqui, continua ai, continua lá no RJ. Isso só é possível através de nossas vidas... Nossas atitudes revelarão a presença de Deus...
Seu texto é sem dúvida, um grito de Deus aos nossos ouvidos... Seu texto me fez ver Deus face a face!!!
O Filipinho (pai e filho) representa a dor do Deus que amamos e que nos amou primeiro.
Só me basta pedir: Deus, cuida destas pessoas.
Fique com Deus, menina Ana Paula Duarte.
Um abraço.