Margot e a bicicleta




    Margot era espoleta, hiperativa ao extremo, esperta e por isso, o terror da redondeza. Seus pais já haviam levado a menina ao psicólogo, centro espírita, psicopedagoga...Mas nada fazia a menina largar de ser agoniada. Se ia na casa dos avós, quando voltava eram mil broncas e esporros, Margot perturbava a vizinhança, acordava o avô que tirava sua sesta, batia no primo pequeno, soltava os cachorros, quebrava os brinquedos...Ela até ficava sem graça e muitas vezes triste. Mas Margot só sabia ser assim. E mesmo já tentara ser mais sensata, menos destrambelhada, mas quando isso acontecia,  não demorava muito tempo, era quase nato, parecia um ímã que a puxava para as grandes confusões.
    Certo dia, a prima mais nova de Margot ganhou uma bicicleta. Ela tinha passado de ano com notas louváveis, enquanto que Margot, passara arrastada com médias nada orgulhosas. Mas Margot também queria uma bicicleta. Seus pais logo entortaram os lábios quando ela fez o pedido. "Não, não e não." foram as respostas. Ela chorou, esperneou, foi ao chão (nisso ela era boa), mas nada amolecia aqueles duros corações. Para toda a família era unânime: ela não merecia uma bicicleta.
    Já que não conseguia ser e demostrar sua impressões acerca do mundo de outra forma ou mesmo ter os mesmos gostos que as outras pessoas, os mesmos hábitos, os mesmos pensamentos, Margot  resolveu que agora se calaria para sempre, já que nada agradava, nunca. Tal decisão radical, requeria muita paciência para consigo mesma e Margot começou a pensar que era uma menina burra, que não aprendia com seus erros e com os modos impostos pelos seus. E ficou muda mesmo. Uma semana, duas, três. Levaram Margot ao médico, ao centro espírita, ao psiquiatra. Um ano, todos se cansaram de entender a mudez repentina de Margot, "é doida mesmo, sempre foi", diziam uns parentes.
  E Margot descobriu que o silêncio a deixara mais calma, mais tranquila e menos preocupada em só falar, agora, ela só ouvia e observava e isso fez com que Margot desenvolvesse uma visão além do que seus olhos carnais podiam alcançar. Margot todos os dias sonhava com a sua bicicleta. Ela era linda, personalizada, cheia de adesivos e ventante, em mil cores, com rodas diferentes, tudo novo, criado pela própria Margot em seu universo paralelo, onde restava-lhe fantasiar e imaginar suas pedaladas na aurora boreal, entre estrelas e cometas, onde o vento sempre a impulsionava, o fantástico era o trivial e o mais legal era que Margot ali não precisava explicar nada,  provar nada e tinha a sua linda bicicleta, não por mérito, mas como presente.
     Numa ensolarada manhã de domingo, Margot acordara ainda sonolenta e seguiu para o banheiro. Passando pela sala, avistou uma bicicleta colorida e cheia de adesivos. Não era a de sua prima, não pertencia a nenhum de seus vizinhos. De quem seria aquela bicicleta? Na cozinha seus pais tomavam o café e ela já entrou inquirindo: "De quem é a bicicleta, de quem é?" e seus pais espantados só gritavam " Ela falou, ela falou, foi a bicicleta!". E Margot então, com as mãos ao rosto percebeu que aquela era a sua tão sonhada e idealizada bicicleta, seu único sonho de consumo. 
     Rapidamente foi para a rua com seu presente e tencionou montar, mas percebia que não tinha equilíbrio, que jamais andara naquela geringonça e agora se sentia frustrada, sentia-se com o mundo nas mãos e sem poder usufruir dele. Resolveu que aprenderia a pedalar, afinal a culpa era de seus pais que não a ensinaram quando era menorzinha, com a intenção de protegê-la das quedas tão comuns de quem aprende. Pois então,  Margot procurou sua prima para que a auxiliasse em sua mais nova aspiração: aprender a pedalar e pedalar como em seus sonhos ventosos! Todos espantados com a surpreendente fala da menina, que chegara na casa dos parentes esbravejando e agoniada, com antes, todos já sabiam,  Margot voltara! 
    Ao se deparar com a prima sentada ao chão, Margot se assusta com o que ela está calçando e a pergunta o que é. "É um patins, a mais nova moda da turma", diz a prima, que pergunta logo o motivo da agonia de Margot ao procurá-la. Então ela diz que  não é nada, dá as costas e vai embora. Ninguém entendeu nada. Mais tarde, em casa com os pais, Margot pede que eles vendam a bicicleta porque ela perdera o interesse e descobrira que jamais iria possuir tanta paciência para aprender a  pedalar sem se esborrachar no chão. Desistindo da bicicleta, a menina passa para sua mais nova ambição. Agora, queria mesmo era aprender a andar de patins!

      Seres humanos e suas vontades...Todos nós temos muito ou um pouco  de meninas Margot´s!

Ana Paula Duarte ( Também não sei andar de bicicleta ) =/ .

Comentários

Daniel Savio disse…
Hua, kkk, ha, ha, podemos ser bastante inconstante quando queremos e tão fieis ao nossa ideiais quando necessários...

Diverti-me um pouco com o texto.

Fique com Deus, menina Ana Paula Duarte.
Um abraço.
Já tive uma Margot como essa em casa, agora ela está bem melhor, ufa... graças a Deus.

beijooo.
Adri Ferreira disse…
Hehehehe.. mas nunca é tarde pra aprender Ana.

Espero que minha Sol não venha a ser uma Margot da vida.. ;D

Bjos
Unknown disse…
bom texto...margot é toda babinha,,parabéns..
Obrigada a todos pelos elogios e Hebert:kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk' para seu comentário...Deixa só ele ver...Vc também tem muito de Margot!kkkkkkkkk
Unknown disse…
Gostei bastante rsrsr
Achei engraçado mas tiramos uma grande lição desse texto.
Nós e nossas Margot's
Parabéns Ana!
... disse…
O melhor texto seu q eu já li! Pude fazer da bicicleta uma metáfora p várias coisas em minha vida q as vezes me deixam passar e qnd as consigo, em tempo, já n é tão mais satisfatório!!! Adorei, compraria um livro com esse textinho, tão maravilhoso, fácil, fácil! Parabéns, amiga!!! Superando-se sempre!!!
Dayane Carneiro!
Unknown disse…
Quando vc kiser aprender a andar de bicicleta é so avisar!
Amei a historia!
Unknown disse…
Muito bom o texto amiga...
Nós e nossas insatisfações insensatas...

Parabéns!
Gente, eu desisto de aprender...Já tentei, é mta ondaa! kkkkkkkkkkkkk'
Tenho outras prioridades...ehehe.

No mais, é isso aí né gente, viver e querer...Nós e nossas vontades. Que possamos aprender a focar nossas metas mas ainda assim, ter a coragem de jogar td pro alto se não estivermos felizes e ter cuidado para que de fato, nossas insatisfações não nos levem a insensatez.

Pago pau pra Margot, a espoleta maluca...ehehe...Obrigada a todos!
Jeyson Rodrigues disse…
Incrível... por um instante quis não saber andar de bicicleta. Que seus santos e santas continuem baixando sempre que quiserem. E que sempre queiram. E que Margot continue nos insirando a sermos humanos, que continue nos inspirando a errar e que continue nos inspirando a não sentir necessidade de fazer o que todos fazem. Um xero nessa cabecinha vermelha.
Quezia Alvim disse…
Margot amiga é uma grande menina, esperta mas ao mesmo tempo ingenua,ainda vai ter que viver muito, pra aprender que o mundo não para enquanto ela para...a roda continua girando.!
Keu Azevedo disse…
Margot é chata.
Não sou muito fã de crianças...
Nunca fui hiperativa como Margot (embora fale muito, fui uma criança pacata que beirava a lerdeza e continuo assim)
Mas analisando poeticamente a Margot, todos realmente tem muito dela: volubilidade, mudança, sonhos irreais idealizações e no fim... Tudo recomeça.
Gostei da história de Margot, mas ainda bem que ela não é minha filha... Se ela emudecesse eu achava era bom ao invé de dar uma bicicleta pra ela! kkkkkkkkkkkkkk
Ps.: e nada de patins tb... manda ela tomar vergonha e ir estudar! kkkkkkkkk
muy bueno o conto, moça
nós e nossos medos

hasta luego
Um caro cidadão disse…
Bom, fiquei preso na história desde o começo. Tenho muita afeição por esses contos fantásticos.


Espero que Margot continue viva pra fazer companhia a Inês, mesmo "morta"... hushauhsuahsuas



Sucesso, fia.


Quero meu exemplar autografado. =D
Unknown disse…
Margot tá ganhando imagem na minha imaginação.. kkk
Kátia Torres disse…
Amei Margot, a construção do texto, a imagem... abraços, vi minha infância e pré - adolescência e de minhas colegas.

Prof.^ª Kátia Torres,
de Adamantina

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