Margot e seu mundo encantado
Margot amanhecera com febre e gripe justo no dia do passeio escolar ao Parque da Ciência. Ela nem gostava de passeios a parques e museus, onde os guias aperfeiçoavam-se em falácias. Ela gostava era de sair com a turma, bagunçar no ônibus, comer a farofa alheia e bater nos meninos.
E naquele dia, ficaria ali, reduzida a seu quarto, com sua mãe a mencionar as restrições e toda blablablalogia médica. Ninguém merecia. A pobre criança mal era vista na cama, com tantos lençóis e cobertas de lã que a cobriam. Não podia brincar, não podia sair, nem tomar sorvete (seria o suicídio!). O que tinha para fazer? Assistir televisão. Assistiu o reprise do Pica-Pau, As espiãs e O Sítio do Pica-Pau Amarelo, aí começou o jornal com toda aquela chatice que não atraía Margot. Ela queria pular, pentelhar, mas estava ali, de molho... Acabou dormindo e sonhando, mergulhou na dimensão do seu mundo paralelo, o mundo mágico de Margot, aquele que todas as crianças tem e que governam com inocência e muita alegria, mas que quando ficam adultas não se lembram mais, o reinado é deposto.
Margot sempre que adentrava no seu mundo encantando, o atravessava por uma escada de concreto enorme, rodeada de flores, e sempre pensava "Bem que poderia ter um elevador", mas depois desisitia, porque preferia mesmo ir caminhando devagarzinho e apreciando a paisagem. Ali no reino, Margot era uma princesa e todos os seus súditos a amavam muito, ela era justa e engraçada, chata e atrapalhada, não queria saber de burocracia, só queria brincar no meio do povo, sujar seu belo vestido de princesa ao ir caçar sapos no pântano. Certo dia, perdeu sua coroa numa dessas idas ao Pântano. Mas Margot não se preocupou, aquele ali era o mundo dela, bronca não levaria "De que me adianta ser princesa se não posso me aproveitar disso? Decreto agora que neste reino pais nenhum podem dar broncas!". E ficou assim, por decreto, a proibição das broncas e o caos instaurado. As crianças aprontando todas. E Margot meteu na cabeça uma coroa de flores e deu-se por satisfeita. No mundo de Margot, era tudo resolvido de forma simples e as pessoas sorriam sempre. Ela ficava se lembrando do mundo real, que poderia ser igual ao reino dela caso ela se candidatasse a algum cargo político, decidiu então que ao voltar para casa se dedicaria mais aos estudos para ser a presidente do país e logo depois do mundo inteirinho. Ela não entendia como é que esses adultos conseguiam complicar as coisas com tantas besteiras e brigas, inimizades, rancores e tristezas se a vida é tão simples, as pessoas tão raras e a paz coisa tão importante. E não entendia como eles podiam esquecer tão rapidamente o mundo da fantasia e o governo do amor, da justiça e do fantástico.
Ela sabia que era a única responsável pelos precoces cabelos brancos que apareciam em sua mãe, graças a todas confusões em que se metia e todo o trabalho que lhe dava, e ela dizia sempre "Não é por mal mãe, não faço mais" e essa era sua frase clichê. Mas também se lembrava da alegria e sorriso dos pais, ao colocá-la para dormir, ao acordá-la, ao levá-la na escola e ao medir todos os meses o seu tamanho na parede e gritar a empolgação de ver que a menina crescia. Se de um lado era uma menina hiperativa, explosiva e teimosa, do outro, ela oferecia uma bandeja de generosidade, afeto, carinho e simplicidade aos pais e isso acabava anulando seus feitos de criança terrorista.
Margot ficou pensando se tudo no mundo também não podia ser assim " A gente podia relevar as coisas ruins e exaltar as coisas boas das pessoas, ninguém é sempre mau." pensou. Mas o ser humano parece ter afeição pelas coisas complicadas! Ali no seu mundo, de tudo tão fácil, ela aproveitava cada momento, o frescor do vento, o perfume das flores, as pessoas queridas e os lugares. Margot sabia que chegaria o momento de crescer e partir, ela já não poderia mais ficar ali, perderia seu reino encantado e sua coroa adornada.
Crianças são felizes! O dia foi longo para os pais de Margot, tão atarefados em suas atividades, na selva de pedra que é a cidade, nas responsabilidades...Enquanto que para Margot mergulhada no paralelo, o dia correu, a noite chegou, e a febre passou. Ficar um dia quietinha em casa nem doeu tanto.
Ana Paula Duarte.
Comentários
Estou gostando demais da série.
Será um bom material para entreter as pessoas, seja qual for a idade delas. Acho muito interessante em quem consegue fazer: escrever para todas as idades um mesmo conto.
PARABÉNS!
Margot é menina, mas Margot tbm é assustadoramente adulta no pensar.
Não vou cair na besteira de deixa-la crescer tão cedo.
Obrigada Wan, bjos.
Gostei da menina Margot. E nesse mundo encantado a leitura fica bem prazeirosa. Vou acompanhar.
Parabéns pelo texto.
Beijos
abraços
de luz e paz
Hugo
Adorei o capricho do blog.
Beijo
Fique com Deus, menina Ana Paula Duarte.
Um abraço.
Aníssima minha, tua, de todos...Ana do mundo no sentido mais literário possível, me encanta essa Ana Paula tão plena e desencucada.
Eu não disse que chegaria?
Um grande abraço, estou sempre por aqui.
Mergulho no meu mundo ainda, não cresci tanto...
22 anos e ainda me pego sonhando com um lugar sem gritos, lamento, pressão...
Todos querem ter um lugar pra gozar da liberdade e da vida que a vida nos priva.
Sei lá... Gostei mais desse lado irreal da Margot que sonha, acho que parece mais comigo...
Apesar dos desencantos.
Dayane Carneiro!
Parabéns Ana.
Bjos
:)