O que será que será?





      E definitivamente, aquela não era eu. Este é meu corpo, esta é minha melhor roupa, este é meu sorriso. Este é o meu olhar? Ouvi dizer que a gente sempre está a procura de algo. Será verdade? E o que eu procuro então? 
    Deram-me purpurina, confetes, adufes, acessórios dos mais simples aos mais sofisticados, alegorias, um palácio, súditos, um trono. Sentei, adornada e afoita, porém só agora percebo, que este reino não é meu, os súditos não são meus de fato, e sim de uma rainha que eles mesmos criaram, uma idealização que primorosamente refleti. Eles não podem me amar, esta não sou eu, este amor não me pertence. Essa alegria não é minha!
     Quem sou afinal? Quem devo ser? Princesa, plebéia, alegre ou triste? Onde é o meu reino? Afinal tenho reino? Afinal o que eu quero? Atravesso a noite a perguntar no escuro a ecoar e a resposta de onde vem? De mim, de Deus ou deles? Onde está a resposta? E por que eu teimo em perguntar e a buscar o que nem eu mesma sei?
      O reino está em festa. Os súditos comemoram, mas a rainha trancou-se no quarto e não quer mais sair. De onde quer que caíam as palavras, que com elas caíam também respostas que elucidem esse grande mistério que é viver.
     É este o meu olhar? Ou terá se perdido na vida, bêbado por aí, a procurar o que não existe, a forma para o abstrato, as colores todas daquele arco-íris do Paraguai? 
      Este é meu corpo, minha mãos, meus dedos. Essa sou eu ainda. 
Respiro aliviada? Terei me encontrado? A busca é incessante e cansável. Titubeio. 
Quero tirar esses adornos e mandar embora todas essas pessoas. Não são minhas. Quero acabar com essa festa agora.
    Adentro no salão transtornada. Todos estranham. Eu jamais os enganei. Eles acatam meu pedido. Pronto, agora me conheceram, esta sou eu, definitivamente.


Destronada, porém livre.

Ana Paula Duarte.

E quando tudo não for bem, desejo coragem  aos rebelados, os que tomam a atitude de não aceitar o  estranho de si. A vida nos pertence. Que encontremo-nos, enfim. Ainda me procuro, devo me encontrar numa dessas esquinas da vida.

Comentários

Bandys disse…
Não existe preço para a liberdade.
Amar é ter um respeito absoluto pela própria liberdade e pela liberdade do outro.
Assim como ninguém muda nossa essencia.


Adorei o texto.
Lindo o que você deixou pra mim no blog.

Beijos
Dayane Carneiro disse…
Ana, achei bastante real e pode ser direcionado a várias pessoas, mas, sinceramente, n a vc! Pois creio q vc é SIM feita de rainha e vive em seu verdadeiro mundo rodeada metaforicamente por castelos! Vc é sim uma rainha, no máximo em algum castelo o qual n esteja muito satisfeita, mas é um posto seu e n há como mudar, é o que representa, é para vc, é vc! ADOREI O TEXTO, AMIGA!
Woow! Independentemente de qualquer coisa, o mais importante, é manter a essência. Bom texto. Muitas dúvidas. Muitos questionamentos a respeito de si mesma. Mais fácil conhecermos e entendermos o funcionamento de uma engenhosa máquina, a conseguir decifrar nós mesmos. Porque somos loucos. Mutáveis. Complexos. Apesar do meu ceticismo, admito, portanto, que Deus é indecifrável, pois somos sua imagem e semelhança. Não é mesmo? Enfim, suas palavras me incitam. Parabéns, querida. ;] Aah, e na pior das hipóteses, você é a rainha de si mesma, porque não há nada melhor que imperar nosso ego. ;*
Unknown disse…
Quem ousou destronar-te?
Nobre não era... E diante do comentário do Carlos só posso concordar e endossar o coro. Aníssima é a rainha, a rainha do blog, a rainha do confabular. Seus questionamentos só mostram a consciência que tens e isso é raro. O ser humano digno e limpo que vc é só se liga ao dom de passar para o papel aquilo que a gente sente.Você é GENTE.
Beijos de Vera!
Unknown disse…
Menina ,menina...tu é talentosa e real!
Parabéns viu!
chica disse…
Parabéns pelo lindo texto!

Ótima inspiração!

beijos,tudo de bom,chica
Laís Portela disse…
"trés magnifique"!!!

Parabéns pelo texto!!

É valiosissíma essa recusa do que lhe é imposto, por que não é isso que és, é isso que os outros querem que seja. Acredito que rebelar-se já é o primeiro passo para encontra-se!

Abraço!
Juliana Cordeiro disse…
ameei o texto Anaa!
beem original , beem vc !!
Joice Almeida disse…
simplesmente maravilhoso. Eu amei mesmo.
Anísia Neta ❀ disse…
"Nós gatos já nascemos pobres, porém, já nascemos livres..." A liberdade tem um preço, a luz tem um preço, a travessia tem um preço! Cada um é que decide se vale a pena pagar o preço ou continuar preso, nas sombras, e à margem de si mesmo! Muito bom texto Ana!!! Adorei a nova cara do blog!! Bjosss Lindonaaa!!!
Unknown disse…
Muito bom Ana, sempre conseguindo nos prender e nos sentir dentro do que vc escreve, pois é tudo que pensamos, só não consigo colocar em palavras, isso você faz pra mim!!
Beijos.
jefferson disse…
Ana Paula e suas inquietações... Parabéns menina! Liberdade...
Jeyson Rodrigues disse…
Sendo quem somos, Ana, talvez não sejamos aceit@s, talvez não sejamos amad@s por tant@s, mas penso, seremos mais amados pel@s pouc@s que nos amam. Concluindo dissertação, por isso meio ausente, mas com crescente saudade de textos vivos e livres como esse. Um beijo
Daniel Savio disse…
Somos uma eterna interrogação a ser quita da próxima esquina, mas nunca acertamos qual é a esquina que teremos esta resposta...

Fique com Deus, menina Ana Paula Duarte.
Um abraço.
Keu Azevedo disse…
Aiaiai...
Sabe o que é incrível nos adornos?
é que eles são lindos...MAS PESAM.
Andei me despindo de alguns também.
É difícil, mas é necessário!

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