Pequena crônica sobre o silêncio
Um amigo me pediu, bem no meio daquele de surto de dor:
- Não grite, não gema, só chore!
Cumpri, por mais que teimosa fosse, o mandamento.
Então, um belo dia, eu vi, a vida trouxe numa bandeja de prata a cabeça de meu algoz.
Ele gritava e gemia, as dores intrínsecas, todas as mazelas e o lamaçal de feno era fétido horror.
Tive pena, mas enfim, cumpre-se a justiça. Muito obrigada sábio amigo, agora passo tal lição:
Ele gritava e gemia, as dores intrínsecas, todas as mazelas e o lamaçal de feno era fétido horror.
Tive pena, mas enfim, cumpre-se a justiça. Muito obrigada sábio amigo, agora passo tal lição:
-Silêncio! Não grite, não gema, nem soluce... Apenas chore.
Um dia, pediu um prato de comida para matar a fome, recebeu em sua face um escarro.
Hoje, nem escarro naqueles ressecados lábios desidratados. Aquele olhar- enxurrada- altivo de ódio e destempero foi dando lugar a um olhar perdido e desesperado.
Hoje, nem escarro naqueles ressecados lábios desidratados. Aquele olhar- enxurrada- altivo de ódio e destempero foi dando lugar a um olhar perdido e desesperado.
O que fazer com a cabeça na bandeja? Enterrá-la, ora!
Pois o cheiro de formol já enjoava minhas narinas. Longe de mim ser déspota!
Pois o cheiro de formol já enjoava minhas narinas. Longe de mim ser déspota!
E no final, quem estava certo?
Sartre estava certo:
' O inferno é o outro'
E nada mais de humilhações e horrores. Sabe por quê? Porque a vida não é assim, tão cruel como se apregoa por aí... É só que a vida detesta coitadinhos, detesta aqueles que gostam de ordenar e maestrar sobre a vida e as atitudes dos outros.
Vamos vivendo, afinal. E quem sabe, aprendendo. 'A vida é agora, aprende'- Já dizia o poeta morto.
Vamos vivendo, afinal. E quem sabe, aprendendo. 'A vida é agora, aprende'- Já dizia o poeta morto.
E a roda da vida, ah, esta não vai parar nunca e a altivez é uma grande burrice.
Já o silêncio, ah, é uma solitude que nos amadurece, é uma grande universidade.
#Maktub
Ana Paula Duarte
Comentários
Amiga, prabéns!
só quem guarda a dor em silencio...sabe quanto ele vale e quanto serve como moeda d troca para com aqueles que colocam o dedo em nossa cara...
amo vc.
beijooo.
É que ando cada vez mais apaixonada pelo Tempo. Não esse do tic-tac do relógio ou aquele das épocas estanques do calendário gregoriano, sabe? Eu falo é do tempo de cada um - que é, talvez, o mesmo tempo que se leva para florescer. Em nossas vidas, em algum momento, ele - o Tempo - nos lembra do compromisso que precisamos assumir com nós mesmos. O que fazer nesse período é uma escolha que cabe a cada um. Por isso gostei muito desse silêncio ao qual você se referiu, como sendo uma solitude. Fundamental para estudar, pesquisar, fazer um balanço da própria vida, ouvir os sonhos que ficaram presos na memória e no coração da gente... Bom para aprender a se amar e se cuidar...Tempo de renovação. Um beijo, querida.
Precioso como o ar!!!
bjoss
Um beijo!
Sonia Regina