Sobre a Infância e o Tempo






Não faz tanto tempo, não aqui junto as minhas lembranças, de um tempo tão doce, tão grande e despretensioso. Infância, eu te tive um dia, aliás, todos nós e de ti recordamos num saudosismo ufânico!
Saudade, essa palavrinha vernácula que sempre consegue nos arrancar gotinhas de lágrimas. E elas são o combustível do meu ato de agora: escrever sobre o tempo, o tempo da puerícia!
As recordações são as melhores, e é engraçado lembrar em como eu queria naquele tempo, que o tempo corresse louco!
Ah, minhas vózinhas lindas, ah os quintais enormes, com bichinhos e muita terra, como eu os amei! Amava aquela liberdade de não ser nada, de ficar ali, fingindo ser cigana, fingindo cozinhar folhas de língua-de-sogra, de bater nos meus primos, de ter meus primos tão perto de mim, de não ter mágoas de tios, de ter os tios tão por perto e todo mundo junto numa confusão danada!
Saudade até de ser sempre o bode expiatório por ser a mais levada. Minha imaginação sempre me fez voar além e por isso, eu queria transportá-la para a realidade e tudo acabava em palmadas!
Saudades de subir no muro e perturbar os transeuntes da rua, de passar trotes, de dormir na casa da tia predileta e aprontar horrores!
Meu Deus, ê saudade que dói.
Por que quando a gente cresce, deixa tudo isso para trás e vai viver uma vida chata de adulto? É tão superficial isso!
Quero ser eternamente criança, e quando tiver tempo, voltar àqueles quintais, onde com lençóis armávamos a tenda de nosso circo e ali passávamos a tarde inteira...Até as dores eram menores.
Saudade de quando com amigas que hoje sequer cumprimento, pegávamos garrafas Pets, furávamos a tampa e brincávamos de "uma jogar água na outra", tão inocentemente...
Ou de quando eu obrigava mamãe a dormir comigo, só por que eu queria toda a atenção do mundo para mim, e ela me dava.
O dia das crianças era o melhor dia de todos, quantos presentes eu ganhava, a união nos embalava e dividíamos tudo.
Eu fui muito feliz em cada fase de minha infância/adolescência!
Mas, deixando o egoísmo da minha linda infância de lado, penso nas pessoas que não a tiveram, e das que não tem. De crianças que nunca puderam ser crianças e muito menos ter um dia específico das crianças...É triste, sei que são coisas da vida, mas, isso acaba por refletir em traumas na fase adulta. Aí fico pensando em como a vida pode ser dura para uns e privilegiar os outros...Fico pensando nesse mundo desigual por tantas vezes!
Quando criança eu sempre quis mudar o mundo, quando cresci, me preocupei em mudar a mim e fiquei muito individualista!
E hoje passei pelo passado, revendo fotos, relendo diários, vendo os brinquedos antigos e senti uma dor tão forte, é saudade do que não volta mais! De tantas pessoas que significaram tanto e hoje me são desconhecidas...Queria poder agradecê-las e dizer que tudo valeu a pena!
Queria hoje dar uma festa, convidar todas aquelas pessoas, algumas não vejo há anos, para um banquete e homenagear a todos os que passaram por minha vida e embelezaram minha infância de alguma forma. Sei que a vida tomou rumos diferentes para todos nós, mas queria tirar apenas um dia, em que nos despíssemos de nossas máscaras adultas e voltássemos ao nosso começo, um tempo em que erámos melhores...Um dia da nostalgia. Seria possível este dia, ou o tempo já nos tirou isto? Ai ai...Só sei que sinto muitas saudades e hoje ela transbordou.


Ana Paula Duarte. Nostálgica e querendo ainda ser criança.

Vídeo- Sobre o Tempo- Pato Fu

Comentários

Minha querida
Um belo texto, voltei no tempo.
Quem me dera ser criança ainda...ficam as recordações.

Beijinhos com carinho
Sonhadora
Dayane Carneiro disse…
Ana, confesso q senti ciúmes por n ter participado da tua infância, mas o q compensa isso é q vivemos, nos tempos atuais, muitos momentos como crianças, né amiga? E isso é muito bom! Ainda somos crianças, somos nos trotes Q ainda passamos; montamos sempre nosso circo ainda q n seja mais no quintal de nossa casa; somos sempre as mais vigiadas, as mais levadas; enfim um leque de travessuras q ainda nos possibilitam viver melhor. Belo texto!
Daniel Savio disse…
Mas de vez em quando dá para levar a nossa criança interior para passear, deixar que ela nos leve para passear, que tal menina?

Fique com Deus, menina Anisssima.
Um abraço.
Unknown disse…
E eu pude ter o privilégio de ver crescer este ser humano lindo, lindo de imperfeições,de humildade, de loucuras, anseios e cheia de vida e que nos contagia. Ainda nem era a Anísima, mas já exagerava...Eu que tenho saudades de ter vocês nas abas e poder "mandar" e controlar. Risos.
Boa nostalgia para todos.
Unknown disse…
Aníssima, que gostoso ler as peripécias de Margot e depois voltar aqui e ler as suas que muito se assemelham as da garotinha.
A linha literária em ti geme, grita, não a reprima, é chamamento.
Abraço poético.

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